A Conflict of Visions: Ideological Origins of Political Struggles
✍️ Thomas Sowell
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Para quem deseja entender o motivo de tanta divisão e conflito político nos dias de hoje, esse livro de Thomas Sowell é leitura essencial. Sowell desenvolve o conceito de visão, que seria simplesmente a forma como entendemos o mundo. A partir da nossa visão é que desenvolvemos as nossas teorias para tentar explicar o mundo e resolver os seus problemas. As visões de mundo são, no fundo, conceitos muito simplistas e intuitivos e. diferentemente de uma teoria científica onde uma hipótese pode ser refutada ou aceita após a realização de várias experiências bem desenhadas, é impossível desenhar um experimento para confirmar ou refutar certa visão. As visões são poderosas porque as leis e políticas de uma sociedade são derivadas dessas visões e têm grandes consequências num curto/médio/longo prazo. Apesar de Sowell ressaltar que uma visão é algo simplista, ele faz um gracejo ao dizer que o adjetivo simplista é reservado apenas para as visões diferentes da nossa.
No livro, Sowell vai definir duas visões que são baseadas no conceito que se dá a natureza das pessoas (mais precisamente as suas capacidades e limitações). Essas duas visões são chamadas de limitada e ilimitada. A grande diferença entre as duas se dá no facto de uma colocar s limitações morais da natureza humana como algo que devemos tratar como algo subjacente ao homem (limitada) ou como algo que pode ser modificado, uma vez que o potencial humano é quase “infinito” (ilimitada). A partir daí, Sowell, de uma forma incrivelmente didática, começa a elencar pensadores que se encaixam nas diferentes visões e como suas soluções e teorias para as questões do mundo (apesar de muitas vezes partirem e concordarem que há algo que precisa ser tratado) são diametralmente opostas. O livro é riquíssimo em citações e textos de grandes pensadores. Pelo lado da visão ilimitada temos William Godwin, Jean Jacques Rousseau, Marquês de Condorcet, Bernard Shaw, John Rawls, Laurence Tribe, etc. Pela visão limitada, os autores mais citados são Thomas Hobbes, Adam Smith, Friedrich Hayek e Milton Friedman.
Sowell divide o livro em vários capítulos onde em cada um ele coloca um tema principal (justiça, poder, economia, igualdade, etc) e encadeia o texto com pitadas destas celebradas fontes. Sowell faz questão de ressaltar que essas visões não são um conceito binário. Elas estão em um grande contínui e as pessoas as vezes mudam as suas visões (sem mudar grande parte da sua personalidade e princípios morais). Ao mesmo tempo, alguns pensadores como Marx e Thomas Malthus são difíceis de serem colocados em uma das “caixinhas” das visões.
Sobre as visões propriamente ditas. A visão limitada coloca o papel da pessoa individual e mesmo de intelectuais um degrau abaixo do conhecimento acumulado ao longo do tempo e das tradições. O processo é muito mais valorizado do que o resultado (a visão ilimitada é muito mais apetente por soluções específicas). Esta dicotomia é que causa os conflitos em vários campos. Vou citar alguns nesta resenha:
- Economia: A visão limitada defende o laissez-faire, que é no fundo um processo que vem dando certo há bastante tempo, em detrimento de intervenções estatais com foco em resultados específicos como preconizado por pensadores da visão ilimitada.
- Justiça: Aqui aparecem grandes discussões sobre igualdade e ativismo judicial. A visão ilimitada não se importa com um ativismo judicial que possa trazer como resultado mais igualdade. Já a visão limitada preconiza a “letra da lei” e diz que certa desigualdade é até certo ponto tolerável pois o risco de uma busca por igualdade em uma dimensão pode ter como subproduto o aumento na desigualdade de poder em outras.
Ao terminar o livro, a sensação que me deu é que neste século XXI vivemos em um mundo onde praticamente 100% dos decisores e criadores de políticas públicas partilham da visão ilimitada. A obsessão por resultados e o ativismo crescente das cortes de justiça em todo mundo corroboram essa sensação. Além do mais, outra característica dos dias de hoje é o grande poder dado a intelectualidade, que se colocou como um guia para “moldar” corretamente o homem comum e cheio de potencial e levar a sociedade aos resultados desejados.