As Ilhas Desconhecidas

✍️ Raul Brandão

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Este é mais um grande livro de viagem de Raul Brandão. Desta vez ele passa o verão de 1924 nos arquipélagos dos Açores e Madeira e esta obra funciona com o seu diário de viagem. Brandão dedica a maior parte do livro (cerca de 85%) ao Açores. Esta decisão é facilmente compreendida dado o maior número de ilhas e a incrível diversidade em termos de população, costumes e paisagem natural do arquipélago açoriano.

Raul Brandão, mais uma vez, nos brinda com a sua prosa poética na descrição das paisagens naturais. Sua linguagem lembra um pintor descrevendo uma tela, com recursos a pinceladas leves/fortes e muitas, mas muitas cores. Quem lê tem a impressão de que Brandão esteve diante de cenários paradisíacos. Eu mesmo, em várias das descrições do mar e de montanhas, lagoas, caldeiras e flores, consultei a internet para saber se havia alguma hipérbole naquilo tudo. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que não. Apesar de terem passado quase 100 anos da viagem de Brandão aos arquipélago, a paisagem natural dos Açores se mantém, parafraseando o próprio Brandão, “quase igual no dia em que o navegador chegou pela primeira vez às ilhas”. No caso da Madeira não foi possível confirmar grande parte da informação porque Brandão se dizia encantando com o cheiro a fruta da ilha.

Outro aspecto a se destacar no livro é o humano. Temos duas dimensões que foram exploradas por Raul Brandão: o próprio autor e a população das ilhas com a qual ele conviveu durante os dois meses. Brandão conseguiu mostrar todo o seu lado viajante de forma bem genuína. Ele surpreende-se, emociona-se e, como qualquer turista, tem seus momentos cômicos. Cito um em particular quando ele, pouco depois de desembarcar na pequena e isolada ilha do Corvo, se pergunta o que foi fazer naquele fim de mundo. Já com relação aos habitantes das ilhas, Brandão faz um trabalho absolutamente exemplar mostrando ao leitor os costumes e, principalmente no caso dos açorianos, a relação daquela população com o imenso oceano que a cerca. Os capítulos sobre a pesca da baleia e sobre os ciclones e outros perigos oceânicos são muito bons. No caso da pesca da baleia temos descrições especialmente violentas que chegam a impressionar.

Uma outra coisa que aprendi no livro foi a respeito da relação entre os açorianos e os EUA. Muitos homens saiam das ilhas para ganhar a vida como pescadores contratados por americanos. Muitas famílias americanas chegaram a ter grandes propriedades nos Açores - principalmente no Faial. Já Ilha da Madeira, segundo Brandão, é muito mais ligada aos ingleses.

Esta foi mais uma leitura que valeu a pena e que recomendo a quem queira conhecer um pouco mais a respeito da parte insular de Portugal.