O Homem Duplicado

✍️ José Saramago

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Gostei bastante da forma como a temática do duplo foi abordada na história. Tertuliano Máximo Afonso, um professor de História, descobre, ao ver um filme sugerido pelo seu colega professor de Matemática, que um dos atores secundários é uma pessoa exatamente igual a ele.

Antes da descoberta, Tertuliano Máximo Afonso já não vivia uma vida muito satisfatória. Sofria de um marasmo que beirava a depressão, não tinha grandes passatempos, ignorava a sua “namorada”, Maria da Paz, e mesmo com a mãe tinha uma relação distante, apesar de manterem contato. Depois da descoberta, Tertuliano Máximo Afonso monta uma operação de guerra para descobrir quem é esta pessoa e torna-se obcecado pela missão. Saramago consegue retratar bem a angústia do protagonista. Imagina um dia descobrirmos um duplo nosso. Quem é original e quem é a cópia? Realmente é algo que coloca a nossa existência e propósito de vida em causa.

Como disse antes, gostei da história, mas Saramago deixa um pouco a desejar na forma. Achei a escrita menos consistente do que a que conhecia dos seus outros livros. Ao contrário do “Ensaio sobre a Cegueira” e “Ensaio sobre a Lucidez” que são livros absolutamente geniais, vejo que em “O Homem Duplicado” há um início muito lento da história onde um certo abuso do fluxo de consciência por parte de Saramago que pode deixar certos leitores frustrados. Da metade do livro em diante, a história dá um salto de qualidade indiscutível e o final é fantástico.

O livro merece 3,5 estrelas mas arredondo para baixo justamente por essa qualidade de escrita tão desigual ao longo da história. Mas não deixo de recomendar a leitura. Só não considero a melhor porta de entrada para um leitor que queira conhecer Saramago.