As Pequenas Memórias

✍️ José Saramago

Tags: josé-saramago , portugal , nobel , lang-pt

Um Saramago num registro bem diferente do que eu conhecia dele. Neste livro, Saramago escreve uma espécie de autobiografia focada no período da sua infância e adolescência. O livro não segue uma ordem cronológica bem definida. A impressão que dá é que Saramago foi escrevendo a medida em que se puxava da memória os episódios.

O que achei curioso é que Saramago diz abertamente não ser o narrador mais confiável para contar as suas memórias: “Em rigor, em rigor, penso que as chamadas falsas memórias não existem, que a diferença entre elas e as que consideramos certas e seguras se limita a uma simples questão de confiança, a confiança que em cada situação tivermos sobre essa incorrigível vaguidade a que chamamos certeza.”. Em outra parte fala diretamente ao leitor que foi um mentiroso compulsivo.

A infância de Saramago foi marcada pelas dificuldades. Ele foi filho de trabalhadores rurais da aldeia da Azinhaga (Golegã). A família se mudou para Lisboa quando Saramago ainda era bebê e nunca tiveram em boa situação financeira, apesar de seu pai ser funcionário público (policial). Moravam em casas muito humildes em Lisboa, com apenas um cômodo e em condições higiênicas bastante precárias. Apesar disto tudo, Saramago nos revela também vários momentos de uma infância feliz. Destaco a relação com os avós maternos sempre que ia visitar a Azinhaga, as brincadeiras de criança na escola, os momentos embaraçosos, as relações com os vizinhos e amigos da família, dentre outros momentos que fazem até o leitor rir, como a história da Pezuda. Ao longo dessas memórias, Saramago também nos revela a gênese de alguns de seus romances que fariam sucesso décadas depois. Outra coisa que gostei no livro foi da homenagem ao irmão Francisco, falecido ainda na infância quando Saramago tinha menos de 2 anos.

É uma leitura bem rápida e prazerosa. Confesso ter tido alguma dificuldade para visualizar o Saramago criança. As vezes vinha à cabeça uma versão miniatura de um senhor careca de óculos caçando rãs no rio Almonda.