João Miguel

✍️ Rachel de Queiroz

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“João Miguel” conta a história do protagonista que dá nome ao romance logo após ele ser preso por assassinato e durante o tempo que passa na prisão. O livro começa exatamente com a cena do assassinato, onde João Miguel, completamente bêbado, se desentende por um motivo fútil com a vítima. Ele é imediatamente preso e é levado ao estabelecimento prisional da cidade, onde irá aguardar o julgamento.

A forma como Rachel de Queiroz conta o tempo que João Miguel passa na prisão é fascinante. Ela consegue explorar muito bem a psicologia do preso sob várias dimensões. Temos o abandono e equecimento paulatino por parte das pessoas que estão do lado de fora bem destacado nesta passagem: “A grande causa de esquecimento, a responsável pela pouca contrição da gente e a pouca constância no arrependimento, é o tempo não ser, como o espaço, uma coisa onde se possa ir e vir, sair e voltar… O que se passa no tempo, some-se, anda para longe e não volta nunca, pior do que se estivesse do outro lado de terra e mar.” .

Observamos também como se dá a criação de novas relações dentro da cadeia (tanto com os funcionários quanto com outros presos), os momentos de solidão onde o preso muitas vezes “analisa” o próprio crime e, também, como o trabalho na cadeia é uma via de escape dos maus pensamentos.

Alguns diálogos do livro tem reflexões bastante interessantes, principalmente se a pena de prisão é realmente a forma mais adequada para um criminoso pagar pelo seu crime: ” Me diga, Seu João, me diga, pelo amor de Deus, qual pode ser a vantagem para esse homem que morreu, e para o povo do Riaçhão, em me botarem apodrecendo aqui neste chiqueiro, meus filhos morrendo de fome, minha mulher se acabando para arranjar um cozinhado de feijão ou uma cuia de farinha? Por aquele infeliz ter ido para debaixo do chão valia a pena se fazer essa desgraça toda a tanta gente?”

Mais um grande trabalho de Rachel de Queiroz. Este é o segundo livro que li da autora e mais uma vez gostei bastante do seu estilo de escrita.