Viagem

✍️ Graciliano Ramos

Tags: graciliano-ramos , brazil , lang-pt

O último livro escrito por Graciliano e publicado postumamente. É uma literatura de viagem em formato de diário sobre uma viagem a União Soviética em 1952 para assistir as comemorações do 1 de Maio. Graciliano já começa em grande estilo: “Em abril de 1952 embrenhei-me numa aventura singular: fui a Moscou e a outros lugares medonhos situados além da cortina de ferro exposta com vigor pela civilização cristã e ocidental. Nunca imaginei que tal coisa pudesse acontecer a um homem sedentário, resignado ao ônibus e ao bonde quando o movimento era indispensável.”

A viagem foi organizada pela Voks (uma espécie de escritório para relações exteriores focado na área cultural) e foram junto com Graciliano outros expoentes da cultura brasileira simpáticos ao socialismo/comunismo (Jorge Amado, Arnaldo Estrêla entre outros), além de políticos como Sinval Palmeira. A viagem começa pela Tchecoslováquia (Praga e arredores) e logo chega a União Soviética. Graciliano visita Moscou, Leningrado, dá uma passada rápida pela Ucrânia a caminho da Geórgia e no Cáucaso visita várias cidades na Geórgia e na Abkhazia.

Apesar da simpatia aberta que tinha ao regime soviético, o relato de Graciliano é bastante honesto. Ele menciona no texto: “Sinto-me no dever de narrar a possíveis leitores o que vi além dessas portas, sem pretender de nenhum modo cantar loas ao Governo Soviético. Pretendo ser objetivo, não derramar-me em elogios, não insinuar que, em trinta e cinco anos, a revolução de outubro haja criado um paraíso, com as melhores navalhas de barba, as melhores fechaduras e o melhor mata-borrão.”

Graciliano se mostra incomodado com certos ‘tiques’ dos seus anfitriões, nomeadamente, a regurgitação de números e estatísticas para propagandear o regime. A grandisidade dos eventos (tanto de tamanho quanto de duração) também cansou Graciliano. O desfile militar interminável do 1 de Maio é o principal exemplo que ele relata. Por outro lado, ele se mostra muito bem impressionado com o sistema educacional soviético e com o hábito de leitura dos alunos nas escolas que visita.

Da mesma forma que John Steinbeck em “Um Diário Russo”, Graciliano ficou bem impressionado com a Geórgia e seus habitantes. Lá ele visita ‘resorts’ de férias dos trabalhadores e também conhece os kolkhozes, uma espécie de cooperativa agrícola e fica impressionado com a beleza da mulher caucasiana.

O livro termina de forma meio apressada com um relato ‘telegráfico’ dos últimos dias de viagem. Mesmo não sendo tão bom quanto o livro de Steinbeck, para quem gosta de relato de viagem é uma leitura bem interessante. Nota: 3,5/5