A especulação imobiliária
✍️ Italo Calvino
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Quinto é um intelectual italiano, um homem de esquerda que militou no Partido Comunista na época da guerra. Após o fim da guerra, parece que aquela chama começou a se apagar e o idealismo começou a se transformar em pragmatismo. Quando Quinto vai visitar a sua mãe na pequena cidade de *** na Ligúria, parte da Riviera Italiana, ele começa a notar as mudanças na paisagem. Prédios e canteiros de obras surgem num ritmo galopante. A família de Quinto tem um pequeno terreno e ele, já pragmático, adota o “quando não pode vencê-los, junte-se a eles” e resolver aproveitar o boom imobiliário da região.
Após convencer a mãe e o irmão, Quinto contrata Caisotti para fazer as obras. Apesar de Caisotti ter uma má reputação na cidade, mais Quinto ficava convencido em fazer negócio com ele: “Quanto mais Quinto ouvia falar mal dele, mais o sujeito lhe agradava: a beleza dos negócios - aquilo que, pela primeira vez, ele acreditava estar descobrindo - era justamente esse misturar-se com gente de toda laia, tratar com pilantras sem se deixar enganar, e quem sabe tentando enganá-los.” .
O resto da história mostra o desenrolar das obras, o jogo de “empurra” e as malandragens de Caisotti, a incapacidade de Quinto em tomar uma atitude e uma certa resignação de sua parte. Parece também que há uma inadequação de Quinto no “mundo real” fora dos manifestos e revistas da intelectualidade. A sua experiência na indústria cinematográfica quando já está desanimado com o rumo das obras me leva a crer nesta hipótese.
É uma obra da década de 50 que envelhece bem. A desconexão da intelectualidade com o mundo real continua e parece ter aumentado. E no que diz respeito a bolhas imobiliárias, é um tema relevante em Portugal há pelo menos 10 anos. Leitura leve com doses de comédia e também com boas reflexões. 3,5/5.