A Luta (Em Portugues do Brasil)

✍️ Norman Mailer

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Essa é uma leitura que vai muito além do boxe. Norman Mailer nos oferece um relato do famoso “Rumble in the Jungle”, a luta entre George Foreman e Muhammad Ali pelo título mundial dos peso-pesados realizada no Zaire em 1974. Mailer nos conta que:

“Essa luta vai ser não apenas o maior evento do boxe,ela vai ser o maior evento da história do mundo.Vai ser a maior virada de que alguém já ouviu falar, e para os ignorantes em boxe vai parecer o maior dos milagres. O público do boxe é formado por tolos e analfabetos quanto ao conhecimento e à arte do boxe.Isto acontece porque vocês aqui,que escrevem sobre boxe são ignorantes quanto àquilo que tentam descrever”

Um aspecto curioso e, por vezes, estranho durante a leitura é o modo como Mailer se coloca na narrativa: ele refere-se a si mesmo em terceira pessoa, o que, em alguns momentos, faz com que o livro pareça mais Mailer-cêntrico do que focado na luta propriamente dita. O livro foca-se mais em Ali, uma grande personalidade dentro e fora dos ringues. A componente política da luta também é dissecada por Mailer, revelando como os dois lutadores simbolizavam visões distintas: Ali, com seu discurso anti-guerra e postura política ousada, era visto como a representação da esquerda radical, enquanto Forema era interpretado como um aliado do governo. Nesse contexto de guerra racial americana, Foreman chegava a ser considerado “menos negro” politicamente, assumindo a figura de um vilão. Somente em seu retorno aos ringues nos anos 80, e em sua segunda carreira brilhante nos anos 90, é que Foreman teve uma reviravolta completa na percepção pública. Mailer também explora, ainda que de forma breve, o cenário político do Zaire, governado na época pelo ditador Mobutu Sese Seko.

De qualquer forma, o relato da luta propriamente dita nos capítulos finais do livro é um espetáculo a parte. Toda atmosfera do ringue, tensão, troca de golpes e brutalidade da luta faz com que pareça que estejamos em Kinshasa, ao lado do ringue. Também é como se estivéssemos assistindo a um documentário, onde as palavras de Mailer desempenham o papel de uma poderosa narração em voice-over. É neste momento que a minha avaliação do livro salte de 3 para 4 estrelas.

“E Ali, com as luvas na cabeça, os cotovelos nas costelas, esperava e oscilava e era chocalhado e batido e sacudido como um gafanhoto no alto de um junco quando açoita o vento, e as cordas tremiam e balançavam como lençóis numa tempestade, e Foreman atacava com sua direita no queixo de Ali, e Ali voava para trás escapando por um centímetro, meio corpo fora do ringue…”