Memórias Póstumas de Brás Cubas

✍️ Machado de Assis

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É um livro simplesmente genial. Machado de Assis tem aqui um estilo de escrita, diria eu, revolucionário para a época no Brasil, muito bem humorado e com várias mensagens importantes entremeadas na sua ironia e bom humor. Começando pela premissa de um defunto escrever o seu livro de memórias e que dialoga continuamente com o leitor ao longo da obra. No meio disso tudo temos comentários estilísticos do narrador ao longo da obra que ela parece até rascunho do que seria a obra final. A dedicatória da obra, “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas Memórias Póstumas”, já mostra o tipo de conteúdo que espera o leitor nas páginas seguintes.

Brás Cubas recorda a sua vida desde a infância até os seus últimos dias e a sua condição de defunto é muito conveniente para que ele faça este relato sem filtros. Fala dos seus amores, das suas infidelidades, nos apresenta a filosofia de Quincas Borba, alfineta a sociedade e política brasileira, especialmente a sociedade do Rio de Janeiro. Aliás, considero que há nesta obra o embrião de várias obras futuras de Machado. Além do próprio Quincas Borba, podemos ver traços de “O Alienista” e de “Dom Casmurro”. Apesar de toda ironia, podemos ver ali alguma dose de lamento em Brás Cubas, a impressão de que ele podia ter sido (e feito) muito mais e melhor na vida. Será que ele falhou em quase tudo que tinha proposto de importante e grandioso para si? Será que um enorme potencial não aproveitado? Vale muito a reflexão.

Temino citando Susan Sontag no seu ensaio “Vidas Póstumas”: Estar morto pode representar um ponto de vista que não pode ser acusado de ser provinciano. Sem dúvida, Memórias póstumas de Brás Cubas é um dos livros mais divertidamente não provincianos já escritos. E amar esse livro é tornar a si mesmo um pouco menos provinciano a respeito da literatura, a respeito das possibilidades da literatura.

Leitura indispensável!