A Origem da Ciência: Como os Filósofos do Mundo Medieval Lançaram os Fundamentos da Ciência Moderna
✍️ James Hannam
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Um livro muito interessante e que me ajudou a me informar a respeito do enorme “buraco” que é o ensino da história medieval. O autor ajuda a desmistificar a imagem de que a Idade Média foi a “idade das trevas” faz um tour pelos filósofos naturais que ajudaram a formar algumas bases para a ciência moderna. O livro cita nomes famosos como São Tomás de Aquino, Alberto Magno, William de Ockham e Roger Bacon mas a leitura fica mais enriquecida ao conhecer diversos personagens fascinantes como, por exemplo, Pedro Aberlado, Adelardo de Bath, os arcebispos de Canterbury Santo Anselmo e Thomas Bradwardine, o filósofo francês Jean Buridan e os filósofos árabes Averróis e Avicena.
O livro se sustenta na tese de que após a queda de Roma para os bárbaros no século V, o conhecimento ficou estagnado na Europa devido a uma barreira linguística. Todo o conhecimento em grego ficou para o lado do Imperio Bizantino, enquanto Roma e o ocidente europeu ficou com o latim e as inúmeras línguas dos povos bárbaros. Simplesmente não havia massa crítica para prosseguir. Os séculos foram passando e o conhecimento dos gregos e dos árabes (que tiveram papel importantíssimo) acabaram chegando ao ocidente através da expansão árabe do século VII-VIII. Os primeiros filósofos naturais medievais tiveram acesso a este material e começaram a recuperar o tempo perdido. Neste ponto, a Igreja também ajudou com a fundação das primeiras universidades na Europa e com a tradução e publicação de vários tratados.
O livro aponta que a imagem de vilã da Igreja Católica é mais uma obra da propaganda protestante após a Reforma com o objetivo de desgastar a igreja ‘rival’. É claro que a Igreja Católica cometeu vários erros durante este período mas é muito interessante ver que desde Santo Agostinho já havia uma tentativa de conciliar o conhecimento da Grécia antiga (principalmente Aristóteles) com a Bíblia. Há uma clara tentativa de cristianizar a ciência de Grécia pagã.
O que achei mais interessante é que muita coisa que só ficou famosa com Copérnico, Kepler e Galileu já havia sido pensada séculos antes por muitos dos filósofos medievais que citei antes. Dois exemplos disso são o facto de já se saber que a terra se movia no espaço e de que a teoria de movimento de corpos de Aristóteles estava equivocada. A famosa frase de Newton “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” faz todo sentido quando vemos a teoria de Galileu e os vários indícios de que ele bebeu da fonte de conhecimento medieval.
Um outro aspecto fascinante do livro é como a Inquisição é vista. O autor diz que é inegável que houve tortura, erros e inflexibilidade. Por outro lado, a Inquisição pode ser vista como um protótipo do “estado de direito” uma vez que até a sua criação não havia a noção de julgamento justo ou de direito de defesa. Foi criada justamente para acabar com um certo barbarismo jurídico.
Como o livro cobre um período imenso e vários personagens, as vezes pode-se ter a sensação de que alguma parte pode ter ficado demasiado superficial. Felizmente o livro tem uma bibliografia e uma seção de notas riquíssima. Leitura recomendada.