Soldados de Salamina
✍️ Javier Cercas
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Este é um livro que conta a história da escrita do próprio livro. A forma como Javier Cercas conta a história é muito envolvente e flui muito bem. O livro é muito bem escrito.
Na história, Cercas, que é o narrador/protagonista do livro, é um escritor frustrado, que perdeu o pai, se separou da mulher e passou a trabalhar em um jornal. Ele passa a ter interesse por um evento ocorrido no fim da Guerra Civil Espanhola: a tentativa frustrada de fuzilamento do líder falangista (e escritor) Rafael Sánchez Mazas em uma pequena localidade na Catalunha. A primeira parte do livro trata justamente deste desenrolar do novelo. Cercas consegue entrevistar o filho de Sánchez Mazas, o também escritor Rafael Sánchez Ferlosio, que conta a versão da história que lhe foi passada pelo pai. Basicamente Sánchez Mazas escapou do fuzilamento e se escondeu durante dias numa floresta, onde contou com a sorte: um soldado republicano o encontrou, apontou-lhe a arma mas desistiu de atirar, deixando-o fugir. Depois encontrou pessoas que o ajudaram com comida e abrigo. Cercas publica um artigo e isso faz com que outras pessoas o procurem para falar mais sobre o fuzilamento, o que leva ele a encontrar alguns dos companheiros de floresta de Sánchez Mazas.
A segunda parte do livro é um “livro” chamado Soldados de Salamina, um relato da vida de Sánchez Mazas que conta, em pormenores, o antes, o durante e o depois do fuzilamento. Os depoimentos colhidos por Cercas na primeira parte são fundamentais para este “livro”.
A terceira parte volta a ser a investigação do jornalista Cercas e é a melhor parte do livro. Cercas é escalado pelo jornal em que trabalha para entrevistar Roberto Bolaño (sim, o escritor chileno é mesmo um personagem da história, e que personagem) e acaba ao longo de várias conversas fascinantes, descobrindo que Bolaño, quando mais jovem, conviveu com Miralles, que foi um soldado republicano na guerra civil e que se refugiou na França após a vitória de Franco. Coincidentemente, no início de 1939, Miralles andou pela mesma região onde estava Sánchez Mazas e isso despertou a curiosidade de Cercas, que ainda tinha desejo em saber mais informações a respeito do soldado que poupou a vida de Sanchez Mazas. Quem sabe ele foi testemunha ocular do fuzilamento. Miralles é, sem dúvida, o personagem mais marcante do livro. Os diálogos dele com Cercas sobre a guerra, sobre heroísmo e sobre a vida em geral são incríveis. Não fica claro se ele é mesmo o soldado que poupou Sanchez Mazas (ou até mesmo se ele é um personagem real ou fictício).
Achei interessante também que o próprio narrador Cercas consegue preencher os seus vazios (divórcio e morte do pai) com a sua nova namorada, Conchi, e com o próprio Miralles, que acaba sendo uma figura paterna para ele.
O livro vai num crescendo. A primeira parte merece 4 estrelas, a segunda 4,5 e a terceira 5. A nota final fica arredondada para cima como 5 estrelas. Leitura recomendada e que vai me fazer procurar outras obras do Cercas para conhecer.