Relato de Um Náufrago
✍️ Gabriel García Márquez
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Um relato jornalístico do Gabriel Garcia Marquez. O livro é o relato de Luis Alejandro Velasco Rodriguez, sobrevivente do naufrágio do contratorpedeiro Caldas, e foi escrito por Garcia Marquez após entrevistá-lo. O prefácio do livro contextualiza a obra na Colômbia dos anos 50, que era uma ditadura e mostra as tentativas do governo do ditador Gustavo Rojas Pinilla de criar uma narrativa “mais conveniente” para evitar repercussões negativas. Garcia Marquez escreve na voz de Velasco, em primeira pessoa. O texto, como todos de Garcia Marquez, é muito bem escrito mas não consegue cativar tanto quanto as suas outras obras (tanto de ficção quanto não-ficção).
A história começa com a partida do contratorpedeiro do porto de Mobile (Alabama, EUA) em 28/2/1955. A viagem parecia ser como todas as outras quando, repentinamente, a tripulação inteira vai ao mar. Quase todos desparecem, com exceção de Velasco, que, por um milagre, consegue sobreviver à deriva em uma balsa durante vários dias. Temos o relato destes dias a deriva até Velasco dar à costa e ser resgatado em um povoado próximo. A partir daí, ele se transforma em uma celebridade instantânea e, de certa forma, em um instrumento de propaganda para o governo.
Destaco alguns trechos marcantes, que revelam a luta contra a solidão e o dilema entre desistir de tudo e manter a esperança:
Para me sentir menos só pus-me a olhar para o mostrador do meu relógio. Eram sete menos dez. Muito tempo depois, para aí umas duas ou três horas, eram sete menos cinco.
…pensava que ia enlouquecer com o relógio[..]tirei-o do pulso para por no bolso,mas quando fiquei com ele na mão lembrei-me de que o melhor era atira-lo ao mar. Hesitei um instante. Depois senti terror: …estaria mais sozinho sem o relógio.”
“Olhei para o lado da balsa onde anotava os dias e contei oito riscos. Mas lembrei-me de que não tinha anotado o daquele dia. Marquei-o com as chaves, convencido de que seria o último, e senti desespero e raiva perante a certeza de que me era mais difícil morrer do que continuar a viver. Nessa manhã tinha optado entre a vida e a morte. Tinha escolhido a morte, e no entanto continuava vivo… “
Para quem gosta de Gabriel Garcia Márquez e de narrativas sobre sobrevivência e jornalismo literário, ainda assim é uma leitura recomendada.