Tia Julia e o Escrevinhador

✍️ Mario Vargas Llosa

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Uma leitura muito divertida. Conhecemos Mário (também chamado de Marito ou Varguitas ao longo do texto) um jovem de 18 anos que sonha em ser escritor. Marito trabalha na Rádio Panamericana recortando notícias nos jornais, reescrevendo-as com palavras mais impactantes para serem lidas nos boletins de notícias da rádio. A Rádio Panamericana é propriedade dos Genaro e é considerada uma radio sofisticada, esnobe e intelectual. A outra estação do grupo, a Rádio Central, é uma rádio popular e famosa por suas novelas radiofônicas importadas de Cuba.

Com o intuito de aumentar a audiência, a Rádio Central contrata Pedro Camacho, estrela das rádios bolivianas, ator, escritor e diretor de novelas de rádio. Ao mesmo tempo, Mário conhece a ‘Tia’ Júlia, que na verdade é irmã de Olga, mulher do seu Tio Júlio. Júlia é uma mulher boliviana, divorciada e mais de 30 anos de idade. Com o passar do tempo, Mário começa a reparar na beleza de Tia Júlia e se apaixona por ela.

O livro então passa a ter uma estrutura interessante. Nos capítulos ímpares, temos a história de Mário e Julia e da luta dele para ter a relação com Júlia aprovada por sua família. Acompanhamos também a excentricidade de Pedro Camacho e os bastidores da estação de rádio. A relação de Mário e Pedro Camacho também é bem interessante de ser seguida. Já nos capítulos pares temos algumas histórias que, aparentemente, estão completamente desconectadas do enredo do livro. Só que ao longo da leitura nós vamos percebendo o que são essas histórias e como essas histórias paralelas vão se tornado caóticas com o passar da leitura.

Pedro Camacho é, sem dúvida. o personagem mais marcante do livro. Destaco aqui alguns de seus pensamentos:

Sobre escrever um livro:
- Meus escritos se conservam num lugar mais indelével que os livros - me instruiu, no ato - A memória dos ouvintes.

Sobre o casamento:
— Acha que seria possível fazer o que eu faço se as mulheres tragassem minha energia? — me admoestou, com asco na voz.
— Acha que é possível produzir filhos e histórias ao mesmo tempo? Que se pode inventar, imaginar, se se vive sob a ameaça da sífilis? A mulher e a arte são excludentes, meu amigo. Em cada vagina está enterrado um artista.


Sobre os argentinos:
- Já encontrou argentinos na sua vida? Quando encontrar com algum, mude de calçada, porque a argentinidade, assim como o sarampo, é contagiosa.

O livro tem traços autobiográficos, uma vez que Vargas Llosa conta a história de seu casamento com a sua tia, a boliviana Julia Urquidi. A históra está muito bem escrita e eu recomendo a leitura para quem quer conhecer um pouco de literatura sul-americana e um pouco do Peru dos anos 50.