Lieutenant Kizhe

✍️ Yuri Tynianov

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Uma leitura muito divertida onde Yuri Tynianov faz uma bela troça com a burocracia e o autoritarismo. A história se passa na Rússia tsarista durante o reino do tsar Paulo I, filho e sucessor de Catarina II, a grande. Um escrivão, pressionado pelo prazo para entregar um relatório, comete alguns erros e “mata” um tenenete por engano e “promove” um alferes inexistente. No russo original era para ser uma palavra que termina em “ki” seguida por uma que começa em “zhe”. O escrivão junta tudo e cria a palavra Kizhe, que dentro contexto do documento seria uma das pessoas promovidas.

Então temos a situação cômica onde as pessoas tentam lidar com o inexistente Kizhe e ao mesmo tempo “eliminar” Sinyukhayev da tropa, uma vez que o papel diz que ele está morto. É muito mais fácil para as pessoas da corte acreditarem no papel do que nos próprios olhos. O tsar Paulo I tem um comportamento muito errático e causa certo temor na sua entourage. Como questioná-lo após ele aprovar o texto do escrivão?

Tynianov escreveu este livro em 1928 e, dadas as características da Rússia pós-Bolchevique, podemos fazer um paralelo entre as duas épocas. Havia autoritarismo, havia uma grande burocracia e os líderes eram pessoas com comportamentos muito paranóicos.

O livro também serve como uma pequena aula de história sobre a Rússia do final do século XVIII. O tsar Paulo era muito ressentido com a sua mãe Catarina, tanto que quando ela morreu e ele assumiu o trono, desfez várias das suas políticas e despediu as pessoas simpáticas a ela da corte. A forma como o livro retrata o tsar nos dá a entender que o seu comportamento e os conflitos internos que criou dentro da corte serviram de combustível para a conspiração que o assassinou em 1801.

É uma leitura bem rápida e eu recomendo.