A Relíquia

✍️ Eça de Queirós

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Um Eça bem inferior ao que havia lido dele.

Temos a história de Teodorico Raposo, um sujeito que ficou órfão muito cedo e foi criado pela sua velha tia D. Patrocinio das Neves, a Titi. A personagem de Titi é apresentada de forma caricatural como uma devota católica, moralista e hipócrita. Titi tem muitas posses e Teodorico, que não tinha 1/10 da fé da tia, acaba por encenar uma devoção de olho no seu testamento. A verdade é que ele acaba vivendo uma vida dupla. Dizia que ia a igreja mas estava sempre atrás de um rabo de saia e dos prazeres mundanos.

Titi ao ver tanta devoção acaba pedindo para que Teodorico visite a Jerusalém e a Terra Santa e traga-lhe uma relíquia de lá. É justamente nesta parte que o livro descarrila completamente. Ao meio da viagem temos um capítulo que relata um sonho de Teodorico. É um sonho que se passa na época da crucificação de Jesus e Teodorico é uma das testemunhas oculares do fato. O problema é que este sonho quebra completamente o fluxo da história. Parece que foi algo escrito independentemente da história e simplesmente “colado” a ela. Até o narrador e sua forma de narração parecem diferentes. Temos um Eça de Queiroz descritivo ao extremo e despejando nomes bíblicos. A leitura torna-se horrivelmente arrastada. Esta é uma parte perfeitamente dispensável da história (tanto que praticamente pulei as últimas 40 páginas desta parte). Foi uma verdadeira via-crúcis para o leitor.

O final do livro com o regresso de Teodorico a Lisboa regressa ao Eça mordaz e de narrativa bem mais fluida. A crítica ao moralismo e a burguesia lisboeta faria com que o livro merecesse 3,5 estrelas mas aquele sonho completamente disparatado faz com que eu tenha de dar 2,5 e arredondar a nota final para baixo.