To Kill a Mockingbird

✍️ Harper Lee

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Que livro! Uma verdadeira obra prima de Harper Lee.

A história de “To Kill a Mockingbird” passa-se no Alabama da década de 30, em meio a Grande Depressão e a segregação racial do sul profundo dos Estados Unidos. O livro nos apresenta alguns dos personagens inesquecíveis da literatura, dos quais destaco Atticus Finch e a voz infantil da sua filha Scout Finch, que narra a história.

A cidade de Maycomb, que é o cenário da história, é, na verdade, uma versão ficcionada da cidade de Mooreville (Alabama), onde a autora viveu. Em Mooreville, também viveu o grande autor americano Truman Capote, que foi amigo de infância de Harper Lee.

A narração na voz de uma criança é um dos grandes diferenciais deste livro. Scout alterna entra travessuras de infância com seu irmão Jem e seu amigo Dill com belos diálogos sobre “assuntos sérios” com seu pai Atticus. Algumas das aventuras das crianças me fez lembrar as aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain. Também é muito interessante ver a situação dos EUA e Alabama dos anos 30 sob o olhar de uma criança. O assunto da segregação racial permeia a história e através da narração de Scout vemos como Harper Lee acredita que o fim da segregação racial era uma questão apenas geracional. A mente infantil simplesmente não consegue racionar o sentido da segregação e porque os negros vivem separados (e até mesmo frequentam diferentes igrejas) do resto da cidade.

“‘Jem,’ I asked, ‘what’s a mixed child?’
‘Half white, half coloured. You’ve seen ‘em, Scout. You know that red-kinky-headed one that delivers for the drugstore. He’s half white. They’re real sad.’
‘Sad, how come?’
‘They don’t belong anywhere. Coloured folks won’t have ‘em because they’re half white; white folks won’t have ‘em ‘cause they’re coloured, so they’re just in-betweens, don’t belong anywhere.”
p.176

O tema principal do livro, entretanto, é um julgamento na cidade. Atticus é designado como advogado de defesa de Tom Robinson, um negro acusado de um crime pelos Ewells (uma familia bem estranha e anti-social da cidade). A divisão racial na época coloca todos os brancos da cidade contra Tom Robinson e, em consequência disto, Atticus passa a ser mal visto por muita gente também. Atticus, entretanto, não se deixa afetar por todo este ambiente (e até mesmo algumas ameaças) e comporta-se de forma exemplar. Em relação ao julgamento, este foi sem dúvida um dos pontos altos da história. O interrogatório que Atticus faz com as testemunhas de acusação são daquele tipo de leitura que nos fazem ficar grudados com o livro.

“‘Atticus, are we going to win it?’
‘No, honey.’
‘Then why —’
‘Simply because we were licked a hundred years before we started is no reason for us not to try to win,’ Atticus said.
p.82

“When Atticus turned away from Mayella he looked like his stomach hurt, but Mayella’s face was a mixture of terror and fury. Atticus sat down wearily and polished his glasses with his handkerchief.

Somehow, Atticus had hit her hard in a way that was not clear to me, but it gave him no pleasure to do so.”
p.204-205

Atticus was right. One time he said you never really know a man until you stand in his shoes and walk around in them.p.305

Algumas notas dispersas:

- Ressalto algumas partes absolutamente engraçadas na história como o “conflito” de Scout com o sistema educacional de Maycomb. Como ela aprendeu a ler em casa com Atticus, isto a deixou muito adiantada em relação a turma e a sua professora ficou profundamente irritada. Não deixa de ser um elogio a educação domiciliar e uma crítica a educação pública, claramente formatada num modo “one size fits all”.

“As for me,I knew nothing except what I gathered from Time magazine and reading everything I could lay hands on at home, but as I inched sluggishly along the treadmill of the Maycomb County school system,I could not help receiving the impression that I was being cheated out of something.[…] I did not believe that twelve years of unrelieved boredom was exactly what the state had in mind for me.” p.35

- A relação das crianças com os vizinhos também era fascinante. Estes vizinhos questionavam (e muito) o tipo de educação dada por Atticus aos filhos. Até mesmo a irmã de Atticus, Alexandra, vai morar com eles e isto gera alguns atritos.

- A personagem Calpurnia, criada dos Finch, também merece uma menção honrosa como uma das grandes personagens do livro. Muito da tolerância racial das crianças na história devem-se ao contato próximo com ela.

- A linha da história sobre o misterioso Boo Radley também é muito interessante. Nesta linha, Harper Lee mostra-nos muito bem como o desconhecido é sempre temido e visto de “forma torta”.
“Nobody knew what form of intimidation Mr Radley employed to keep Boo out of sight, but Jem figured that Mr Radley kept him chained to the bed most of the time. Atticus said no, it wasn’t that sort of thing, that there were other ways of making people into ghosts.” p.12

Leitura recomendadíssima. Um grande clássico da literatura americana.