As Pupilas do Senhor Reitor
✍️ Júlio Dinis
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Mais uma obra de Júlio Dinis e mais uma leitura agradável. A linguagem, a forma de narrar os acontecimentos (com alguns apartes muito bons do narrador) e o cenário bucólico estão mais uma vez presentes na obra do autor português.
A história centra-se em quatro personagens: Daniel e Pedro, filhos do lavrador José das Dornas, e Margarida e Clara, duas irmãs, órfãs e que estão sob a tutela do reitor da aldeia. Pedro, o filho mais velho, é visto como o sucessor de José das Dornas na sua atividade rural. Daniel, magro e frágil, não tem o perfil para a carreira agrícola. Inicialmente José das Dornas e o reitor pensam em torná-lo padre, uma vez que Daniel é um garoto muito estudioso. Como Daniel revela não ter perfil para ser padre, eles acabam por decidir mandá-lo ao Porto para estudar medicina com o intuito de se tornar o médico da aldeia. O atual médico, o doutor João Semana, já está velho e não tem muitos anos pela frente.
Margarida e Clara são filhas de um carpinteiro. A mãe de Margarida morreu cedo e o segundo casamento do pai gerou Clara. A madrasta de Margarida a tratava muito mal enquanto dava todos os privilégios e regalias a Clara. Isto tudo acabou por refletir na personalidade destas duas personagens. Clara é uma pessoa alegre e expansiva e Margarida é melancólica e de lágrimas fáceis.
Temos duas fases distintas na história: antes de Daniel ir estudar no Porto e depois do regresso de Daniel já como médico formado. Neste ínterim, Pedro e Clara tornam-se noivos.
A volta de Daniel à aldeia tem vários desafios, o principal deles é como readaptar-se a vida rural depois de uma temporada na cidade grande. Outro é como obter a confiança da população. Neste aspecto, temos uma parte bastante engraçada na história onde José das Dornas, todo orgulhoso, conta um perplexo João da Esquina, o tendeiro da aldeia, todas as “novas teorias” que Daniel aprendeu ao estudar medicina na cidade.
O principal foco da segunda parte do livro é o relacionamento do quarteto Pedro, Daniel, Clara e Margarida. Além dos vários desencontros, temos muita fofoca e falso moralismo dos outros moradores da aldeia que “apimentam” a história. A própria ambiguidade do personagem Daniel contribui muito para isso. Em relação a isto, Júlio Dinis, mostra-se um crítico ferrenho dessas falsas beatas e a forma como ele constrói o personagem do reitor em contraponto a estas falsas beatas revela esta crítica aos leitores.
O livro merecia uma nota 4 mas perde pontos no seu final. Eu realmente não gostei do que Júlio Dinis fez no final deste livro e discordo do destino dado a alguns dos personagens. Por isso, o livro fica com 3,5 arredondado para baixo. De qualquer forma, eu continuo a recomendar a leitura de Júlio Dinis pois, acima de tudo, ele escreve muito bem.