A Submissa e Outras Histórias

✍️ Fyodor Dostoevsky

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Esta é uma coleção de contos da fase madura de Dostoiévski. As histórias foram escritas entre 1862 e 1877. As temáticas são bem variadas, temos contos muito bem humorados, outros em que Dostoiévski disseca a alma humana como só ele sabe fazer. A minha nota final é 4,5/5 arredondada para baixo. É um bom livro para ser lido aos poucos, ao longo de alguns meses.

Uma História dos Diabos - 4
Foi uma releitura. Há 3 anos li uma edição brasileira, ri muito e também senti vergonha alheia. É uma novela engraçadíssima onde Dostoiévski usa a ida inesperada de um chefe a uma festa de casamento de seu subalterno para descrever as relações sociais na Rússia pós-reformas no início dos anos 1860.

Notas de Inverno sobre Impressões de Verão - 3,5
Dostoiévski visita a França, Inglaterra e Alemanha e produz um relato não convencional. Primeiro começa com uma análise da literatura russa no século XIX (aborrecida e, nas palavras do próprio autor, supérflua). Ele se foca uma análise sociológica russos x europeus. O ponto alto é o “roast” feito aos franceses/Paris e compensa os capítulos iniciais. O conto mais enfadonho da coletânea.

O Crocodilo - 4
Conto bem maluco de Dostoiévski. Um homem vai ao shopping com a sua mulher ver um crocodilo exposto por um alemão e acaba engolido pelo bicho. Só que ele sobrevive e passa a viver (e filosofar) dentro do animal. A naturalidade dos outros personagens lidando com o acontecimento torna a história engraçada. Temos críticas à burocracia e o velho duelo Rússia x Europa. Perde pontos pela ausência de final. Este e o “Uma História dos Diabos” são os contos mais engraçados desta coletânea.

Bobok - 4
Um conto fantástico/satírico em que o protagonista é um personagem que poderia ser muito bem o famoso “homem do subsolo” de Dostoiévski. Após ir a um funeral, ele adormece no cemitério e começa a ouvir um diálogo entre os mortos. O diálogo satiriza bastante com a sociedade russa. Aproveita-se melhor a leitura tendo uma contextualização da época. Bobok é uma resposta de Dostoiévski aos críticos literários.

Menino numa Festa de Natal - 4
Um conto de Natal brutal e demolidor. O título ilude o leitor para o que vem na história: pobreza, indigência, frio. As crianças Dickens são quase felizes em comparação. Digo com toda certeza que este conto NÃO deve ser lido no Natal.

O Mujique Marei - 3,5
Dostoiévski traz duas recordações bem distintas da sua vida: uma do tempo em que esteve preso e outra do tempo em que era uma criança de nove anos. Na prisão, um preso polonês chama todos os russos que estão ali de bandidos. Ao recordar um episódio de infância com o mujique Marei, o patriotismo de Dostoiévski aflora e ele “refuta” o polonês ao mostrar a bondade do homem simples da Rússia.

A Centenária - 3,5
Um conto em que Dostoiévski numa forma bem “dostoievskiana” trata do tema da longevidade e da velhice. O narrador ouve o relato de uma pessoa a respeito de ter encontrado e conversado com uma mulher de 104 anos que estava a caminho da casa dos netos para almoçar. A noite, o narrador então resolve “dar um final” ao relato, escrevendo o que, na sua opinião, seria mais verossímil de ter acontecido.

A Submissa - 5
É um conto absolutamente genial. A estrutura da história com o narrador (dono de uma casa de penhor), tendo diante dele o cadáver da mulher que acabara de cometer suicídio, tenta “racionalizar” e fazer uma retrospectiva sobre a sua vida de casado, é incrível. Em termos de contos de Dostoiévski que lidam com a psicologia, as motivações e as emoções humanas, este é o melhor deles.

Sonho de um homem ridículo - 5
Acho que só Dostoiévski conseguiria escrever uma visão desta sobre o pecado original. Um homem ridículo (autodenominado) está com o suicídio “marcado” tem um sonho onde descobre uma Terra paralela onde a população ainda vive sem o pecado original. O processo de corrupção da população é descrito de forma brilhante e quase profético.